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Crédito a veículos deve ficar mais concentrado
O retorno de prazos mais alongados de financiamento de veículos pode provocar uma concentração maior desses créditos nas grandes instituições, em detrimento dos bancos médios, por conta dos modelos de captação de recursos.
O retorno de prazos mais alongados de financiamento de veículos pode provocar  uma concentração maior desses créditos nas grandes instituições, em detrimento  dos bancos médios, por conta dos modelos de captação de recursos.
Para o  analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, o  funding das instituições de menor porte não permitiria oferecer prazos maiores  neste momento. "As grandes instituições podem esticar as parcelas por contar com  funding de longo prazo, mas a maioria dos médios se financia em prazos mais  curtos, e teria dificuldades em acompanhar esse alongamento."
Segundo  ele, apesar de a economia dar sinais de melhora, com altas na bolsa, por  exemplo, também ainda manda sinais contraditórios: muitas empresas estão pedindo  recuperação judicial e há instabilidade no mercado de trabalho.
O Itaú  Unibanco iniciou o movimento de voltar a oferecer prazos superiores a cinco anos  no final da semana passada, quando anunciou que retornaria a oferecer crédito  para a compra de automóveis zero-quilômetro divididos em até 72  meses.
Segundo a instituição, isso seria possível graças à redução das  taxas de juros, "aliada aos sinais positivos na economia". "Consequentemente,  haverá redução do valor das prestações. Acreditamos que podemos fazer mais para  aumentar as vendas, que já estão próximas dos níveis de 2008", afirma Marco  Bonomi, vice-presidente executivo do banco.
Segundo Santacreu, dessa  forma o banco passa a atrair uma demanda maior pelo serviço. "Com as parcelas  diluídas em um prazo maior, o banco irá atrair uma demanda retraída, com uma  parcela que cabe no bolso." Se as outras instituições não puderem acompanhar,  completa, o Itaú consegue uma diferenciação de mercado que lhe dá  vantagem.
Para o analista, o funding dos médios teria de acompanhar os  prazos maiores para também conseguirem oferecê-los. "O que não é tão fácil nesse  caso. Seria necessário refazer contratos de cessão de crédito ou conviver com o  descasamento no fluxo de caixa, mas este não é o momento ideal para  isso."
Segundo Bonomi, a previsão é que a carteira de crédito da  instituição cresça cerca de 15% em 2009. "Podemos até obter um resultado melhor  em razão desse anúncio, que deverá ter reflexo positivo no incremento dos negócios",  diz o executivo. A carteira de financiamento de veículos do banco fechou o  primeiro trimestre de 2009 em R$ 52 bilhões.
O saldo da carteira de  crédito da instituição somava R$ 272,7 bilhões em março deste ano, 0,3% superior  ao de dezembro de 2008. As operações com pessoa  física cresceram 1,4% no período, impulsionadas pelo incremento de 4,2% no  crédito pessoal e pelo acréscimo de 1,9% no volume de financiamentos de  veículos. Já a carteira de crédito imobiliário cresceu 5,8% no  período.
Segundo dados do Banco Central, o saldo de financiamento de  veículos para pessoa física vinha em evolução até outubro do ano passado, quando  atingiu saldo de R$ 140,9 bilhões. A modalidade voltou a recuperar-se em  fevereiro deste ano, quando chegou a saldo de R$ 144,9 bilhões. O trimestre  encerrou com estoque de R$ 145,814 bilhões, alta de 4,8% em relação ao período  anterior.
Para ter sucesso nesse modelo, Santacreu acredita que o Itaú  irá adotar modelos mais rigorosos na concessão do crédito. "Ainda é preciso  estar atento à inadimplência". O analista acredita que esse pode ser um dilema  para as instituições na hora de decidirem por alongar ou não os prazos. "O  segundo trimestre ainda deve mostrar estragos nos balanços. Os bancos ainda  terão de conciliar a administração  da inadimplência de concessões passadas, que se concretiza agora, e os sinais de  melhora nos indicadores na economia", acredita.
