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Indústria invade espaço do varejo e vende para o cliente
Parceiros e concorrentes. As vendas para o consumidor se efetivam porque uma empresa fabrica um produto e outra se encarrega de vender.
Neide Martingo
 Parceiros e concorrentes. As vendas para o consumidor se efetivam porque uma  empresa fabrica um produto e outra se encarrega de vender. Mas, em um mundo concorrido, com várias exigências, como preços  competitivos,  e diante de tantas facilidades, como a internet, alguns  fabricantes optaram por vender diretamente ao cliente – seja pelo mundo virtual,  seja por lojas próprias. A tendência está em franco crescimento e já foi adotada  por empresas como Brastemp, LG, Samsung, Sony, Itautec, Dell Computadores,  Boticário e Natura. Quem entrar num site de busca, procurando o melhor preço de uma geladeira da  Brastemp, vai se deparar com várias redes de varejo. Entre elas, aparece o  logo  do próprio fabricante. O preço é semelhante ao encontrado nos demais  concorrentes. A Sony abriu quase 200 lojas-conceito no mundo. Só no Brasil,  inaugurou  quatro: a primeira no Shopping Cidade Jardim e, depois, no Bourbon Shopping,  ambas em São Paulo, uma em Brasília e a mais recente, no Rio de Janeiro. A Sony  Style aparece nos sites de busca, e suas unidades disputam espaço nos shoppings,  ao lado dos concorrentes. O principal objetivo da loja é proporcionar uma experiência diferenciada ao  consumidor da marca. "Nosso público encontrará aqui o mesmo padrão das lojas do  exterior. Ou seja, um local atraente, com design moderno, linha completa de  produtos Sony, atendimento especializado e A Samsung Experience foi aberta no Morumbi Shopping, em outubro de 2005 – é a  quinta unidade no mundo. A loja não vende  produtos. O espaço é voltado para a  interação dos clientes com as linhas oferecidas. "Lá, pode ser feita a  'degustação' dos produtos. O consumidor pode mergulhar na tecnologia pelo tempo  que quiser, sem ter de lidar com a possível pressão dos vendedores. Por mais  gentis que sejam, eles querem fazer negócios. Se a pessoa demora muito, podem  ficar sem paciência; e o cliente, constrangido", afirma o diretor de marketing  corporativo, Carlos Werner. "A decisão de compra é tomada na Samsung Experience e nos permite perceber   se o produto está sendo bem aceito pelo mercado. O lado negativo é que o cliente  tem de sair da loja-conceito para fazer a compra. O impulso de adquirir o item  pode se perder." Ainda inéditos no Brasil, a Samsung tem no exterior os brand shops – locais  onde o consumidor pode conhecer e comprar o item da marca. "É possível que isso  também seja feito no Brasil. Mas, por enquanto, o varejo é capaz de fazer o  serviço melhor do que nós", afirma o executivo. Outro modelo é o "shopping  dentro do shopping". “Os pontos de venda exclusivos da marca  podem ser  instalados em grandes lojas de departamento. Os vendedores seriam da loja,  treinados pela Samsung." Na onda do celular  – A LG começará a atender o consumidor  por meio de aplicativos e conteúdos em versão beta, para celulares. "Quando os  clientes compram um smartphone, querem otimizar os vários serviços, alguns  gratuitos. Disponibilizando-os, a LG fideliza seu público", detalha o diretor  comercial da divisão de celulares, Marcus Daniel de Souza. Ainda neste ano, a empresa venderá toda a linha diretamente ao consumidor,  pela internet. "Será uma parceria com as lojas virtuais do varejo. Se um  determinado site não oferecer o modelo, a pessoa tem a opção de clicar o link da  LG na página."  Para Souza, o aumento de vendas deve ocorrer, mas não é a  prioridade. "Um cliente satisfeito volta à loja, mesmo a virtual." Segundo o diretor-geral da e-bit, empresa especializada em comércio  eletrônico, Pedro Guasti, ao abordar diretamente os consumidores, os fabricantes  precisam tomar cuidado para  não criar conflitos com os interesse dos   varejistas. "Se a indústria oferecer um preço mais em conta, as lojas também vão  exigir a facilidade." "Ao vender diretamente, a indústria não fica refém do comércio."  A afirmação é  de Nelson Beltrame, da Felisoni Consultores Associados. Para ele, o varejo  ensinou a indústria a atender os clientes. "Nas Casas Bahia, muitas vezes o  produto vai diretamente da fábrica para o comprador." Segundo ele, a tendência  vai crescer, e a  internet será o principal canal das vendas diretas.
Para o economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo, Emilio Alfieri, por enquanto, as vendas feitas pelos fabricantes na internet não são uma ameaça ao comércio. "As pessoas querem tocar, ver, saber dos detalhes dos produtos. Os itens preferidos pelos internautas ainda são livros e DVDs. Mas, se as indústrias querem chegar à população, é porque devem estar desesperadas para vender."
