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Micro e pequenas empresas aproveitam o bom momento da economia
As condições para alcançar tais objetivos são as melhores possíveis em 2011.
Cansadas do papel de meras coadjuvantes do crescimento econômico, micro e  pequenas empresas (MPEs) pegam carona na onda de prosperidade que  empurra as grandes companhias e os setores brasileiros. Beneficiados por  pesados investimentos públicos e privados, além da elevação do nível de  emprego e da renda, esses negócios decidiram ampliar seus horizontes à  procura de boas oportunidades e, claro, mais lucros. As condições para  alcançar tais objetivos são as melhores possíveis em 2011.
Levantamento  do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)  mostra que, em função dos preparativos para a Copa de 2014 e para as  Olimpíadas de 2016, construção civil, tecnologia da informação,  agronegócio, madeira e móveis, o comércio varejista e os serviços são os  segmentos mais promissores para quem espera faturar alto neste e nos  próximos anos. Motivos para confiar no futuro não faltam. Dados da  Serasa Experian provam que o fantasma da falência já não assusta mais  como antigamente: de janeiro a dezembro de 2010, por exemplo, houve 653  decretos que levaram ao fechamento das portas — número inferior aos 831  registrados em 2009.
Hoje, 98% de todas as companhias  estabelecidas no país são de micro e pequeno portes, o que mostra a  importância desse perfil de empreendedores. “Elas funcionam como uma  esponja em relação à economia. Se estamos num período de recessão, elas  são as primeiras a sofrer. Se vivemos um bom momento, elas também são as  mais beneficiadas”, explica Francisco Barone, coordenador do Programa  de Estudos Avançados em Pequenos Negócios, Empreendedorismo e  Microfinanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Aportes feitos  pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ao lado do Minha Casa  Minha Vida, impulsionam a construção civil. O empresário Paulo Roberto  Balbino de Freitas, 50 anos, está atento ao cenário. Depois de ver sua  loja no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), no Distrito Federal,  ampliar em 10% ao ano as vendas em 2009 e 2010, Balbino se prepara para  as novas demandas. Neste ano, vai investir cerca de R$ 800 mil na compra  de uma empilhadeira, uma pá mecânica e três caminhões. “A nossa  expectativa é de crescer mais 10% em 2011. Com o mercado aquecido, as  pessoas estão fazendo mais obras. Além disso, os programas  governamentais têm impacto no faturamento”, reforça.
Para o  diretor técnico do Sebrae Nacional, Carlos Alberto dos Santos, a  expansão da nova classe média é um dos principais propulsores. Desde  2003, 30 milhões de brasileiros alçaram à condição de classe C,  consumindo como nunca e tomando crédito a um ritmo cada vez mais  acelerado. Com mais poder de compra, esse contingente de homens e  mulheres passou a frequentar bares, restaurantes e a cobiçar produtos  sofisticados. “O desenvolvimento também está se espalhando, saindo da  Região Sudeste para o Norte e o Nordeste, o que favorece enormemente os  negócios”, ressalta Santos.
Sobrevivência
No Nordeste, o  índice de empresas que fecham antes de completar dois anos de criação  caiu de 46,7% para 18,9% desde 2002. No Sudeste, de 48,9% para 16,1%. Em  todo o Brasil, de 49% para 22%. Os estados com melhores resultados  quanto à sobrevivência de MPEs são Espírito Santo, Minas Gerais e  Sergipe, com mais de 85% de empresas que não fecharam as portas. Em  contrapartida, Roraima, Acre e Amapá apresentaram as maiores taxas de  mortalidade, entre 37% e 50%. “Numa economia capitalista, as empresas  sempre vão fechar. Mas, graças ao crédito para o consumo e a iniciativas  como o Super Simples — que reduz a carga tributária para os  empreendimentos de pequeno e médio porte —, a taxa de mortalidade tem  caído de forma paulatina”, adverte o diretor técnico do Sebrae Nacional.
Na  avaliação da professora do Departamento de Administração da  Universidade de Brasília (UnB) e especialista em inovação e  empreendedorismo, Marina Figueiredo Moreira, a redução nos índices de  falência também contribui para amenizar o custo social do país. “Quando  uma empresa fecha, famílias perdem empregos e ficam endividadas. Não é  um custo apenas econômico. O bom é que vemos uma reversão nesse quadro”,  resume Marina.
Jogo que não permite erros
Se  quiserem tirar proveito dos bons ventos que sopram a favor neste ano,  os micro e pequenos empresários precisarão, antes de tudo, vencer  obstáculos. Em meio a um emaranhado de leis, carga tributária elevada e  dificuldades crônicas de contratar mão de obra, as maiores chances de  ampliar os lucros estarão concentradas nas mãos de quem se modernizar e  estiver atento à realidade do mercado. “É fundamental ter informação e  conhecimento. Com uma concorrência tão acirrada, os profissionais  precisam entender as tendências e os desejos dos clientes. Não adianta  achar que o que deu certo ontem vai funcionar hoje”, lembra o diretor  técnico do Sebrae Nacional, Carlos Alberto dos Santos.
O  empresário do ramo da tecnologia da informação Roberto Bretas, 48 anos,  aprendeu a receita. Há três anos, ele abriu um negócio para vender  equipamentos e programas de informática para órgãos governamentais e,  nesse período, saiu da posição de micro para pequena empresa — com  faturamento de até R$ 2,4 milhões por ano. “O mercado tem instituições  públicas com grandes e complexas estruturas. Precisamos saber com  profundidade o que cada cliente quer”, diz Bretas. As perspectivas para  2011 são positivas. “Este é um ano mágico, de franco crescimento. Hoje,  tenho 12 funcionários, mas quero contratar outros 15. Além disso, vou  investir na especialização da equipe”, planeja.
A professora  Marina Figueiredo Moreira, da Universidade de Brasília (UnB), afirma que  o grande desafio para os empresários é oferecer produtos diferenciados.  “Eles precisam investir na inovação tecnológica, com novos itens,  serviços e métodos. Hoje, de cada 10 empresas abertas, nove fazem mais  do mesmo”, completa a especialista. “O importante é criar uma combinação  que não é encontrada na concorrência. Uma pizzaria, por exemplo, pode  produzir um novo sabor ou mudar a técnica de atendimento”, justifica.
A  diretora de planejamento de mercado da Publicar, Rosimery Saad,  acrescenta que a importância de os executivos divulgarem seus produtos é  fundamental. “Com tanta disputa, quem não investir em comunicação e  mostrar sua marca vai ficar para trás”, lembra. “Outro ponto é a gestão.  O problema das MPEs é que o empresário, muitas vezes, é bom em vendas,  mas não entende de recursos humanos e tecnologia”, Francisco Barone, da  Fundação Getulio Vargas (FGV). (CB)
Mapa da mina
Copa e Olimpíadas trazem boas
chances de turbinar o faturamento 
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